A FÁBULA NA OBRA POÉTICA DE DIOGO PIRES
António Manuel Lopes Andrade
Universidade de Aveiro
Diogo Pires encontra-se, com inteira justiça, entre os mais talentosos poetas novilatinos do século XVI. O humanista eborense, membro de uma destacada família de origem judaica, os Pires-Cohen, muito cedo deu provas do seu enorme talento enquanto poeta ao publicar – estava prestes a celebrar o seu vigésimo aniversário – várias composições em língua grega e latina num volume de homenagem a Erasmo, cuja edição esteve a cargo do notável humanista e impressor Rogério Réscio, poucos meses após a morte do Roterodamês[1]. Assim, no mês de Março de 1537, Diogo Pires assistia ao reconhecimento dos seus dotes poéticos, ao ver publicados vários epitáfios de sua autoria nesta obra colectiva em que participaram alguns dos mais consagrados humanistas da época, muitos deles ligados aos círculos erasmistas de Lovaina, entre os quais se contam André de Resende, Clenardo, H. Froben, Jean Morel, Juan Luis Vives, Petrus Nannius, S. Grynaeus ou Cornelius Graphaeus.
O humanista português percorreu um longo caminho, desde que saiu de Lisboa, em 1535, rumo a Antuérpia, até chegar a Dubrovnik, onde acabou os seus dias em finais do século. Ao longo da sua vida atribulada, porém, nunca deixou de se devotar, com maior ou menor intensidade, a duas actividades tão queridas de vários daqueles humanistas que com ele contribuíram para o volume publicado em memória de Erasmo: a poesia e o magistério.
A relação privilegiada entre o poeta e o educador ultrapassa, algumas vezes, o próprio contexto específico da criação poética, já que alguns poetas exercem igualmente uma actividade pedagógica, assumindo assim, a um só tempo, a condição efectiva de poetas e professores. Esta realidade não era desconhecida do mundo greco-latino, onde basta citar o exemplo paradigmático do poeta e mestre-escola que é considerado, comummente, o primeiro autor da literatura latina: Lívio Andronico.
O exercício da actividade pedagógico-didáctica constituía uma prática bastante comum entre os humanistas, que lhe concediam, regra geral, um valor inestimável no quadro dos valores e dos objectivos por que regiam as suas vidas. Não é raro, por isso, encontrar entre eles lídimos seguidores desta antiga tradição em que poeta e professor se confundem na mesma pessoa.
O próprio Diogo Pires oferece um bom exemplo desta realidade, porquanto são assaz conhecidas as suas qualidades excepcionais como poeta e pedagogo, evidenciadas durante a sua permanência tanto na Flandres, como em Ferrara, mas sobretudo nas várias décadas que viveu em Dubrovnik. Desta frutuosa união entre a poesia e o ensino havia de nascer uma espécie de projecto de vida que culminou com a publicação, em duas edições venezianas, daquela que pode ser justamente considerada a obra-prima de Diogo Pires: uma extensa colectânea poética, em língua latina, que ostenta o sugestivo título Cato Minor siue Disticha Moralia[2]. Trata-se de um livro que integra uma grande variedade de composições escritas em diferentes fases da vida do autor, não obstante haver uma manifesta intenção pedagógico-didáctica subjacente a uma parte substancial dos capítulos que compõem a obra[3].
Na verdade, a colectânea acabou por ser dedicada aos mestres-escola da cidade de Lisboa, ainda que os destinatários últimos dos poemas fossem, como é fácil de ver, os jovens alunos que os Ludimagistri Vlissiponenses iniciavam no estudo das primeiras letras e conceitos de conduta moral. O Cato Minor nasce verdadeiramente sob o signo da pedagogia, porque o núcleo inaugural da obra – os Disticha Moralia – integra um conjunto de dísticos morais compostos especificamente para a educação da juventude, à imagem da célebre colectânea dos Disticha Catonis. A declarada intenção didáctica, que subjaz a esta parte inicial do Cato Minor, percorre um pouco toda a obra, se bem que se acentue, em particular, no referido grupo inaugural dos Disticha Moralia e nos Carmina Moralia, que constituem a sua continuação directa e a parte mais extensa e heterogénea do livro.
A concepção geral da obra de Diogo Pires resulta, em grande medida, da sua experiência como professor particular de jovens alunos, tantas vezes nomeados e invocados directamente em composições dispersas por vários capítulos da colectânea. O humanista português dedica o Cato Minor siue Disticha Moralia aos Ludimagistri Olyssiponenses, por entender seguramente que os seus poemas constituíam um instrumento pedagógico-didáctico passível de ser utilizado com proveito pelos professores que ministravam, a um nível inicial, a formação linguística e moral aos jovens lusitanos.
No fundo, Diogo Pires dá continuidade à antiga prática do γραμματιστής / γραμματοδιδάσκαλος / ludi magister / litterator[4], no mundo greco-romano. Sob a orientação do mestre, os alunos aprendiam a ler e a escrever através de exercícios bastante simples que começavam com as letras, passando pelas sílabas, pelas palavras isoladas, até chegar às frases simples e aos textos já com relativa complexidade[5]. O professor, porém, não se limitava apenas a ensinar as crianças a ler e a escrever, já que procurava, em simultâneo, incutir no espírito dos seus jovens discípulos normas de comportamento e de conduta que lhes pudessem servir de guia durante a vida.
Esta formação de carácter ético era ministrada, em grande medida, através do recurso a determinados textos poéticos que eram utilizados como instrumentos pedagógico-‑didácticos desde os primeiros anos de escolaridade. Assim se compreende que, com vista à realização integral deste objectivo, Quintiliano recomende que os jovens nos primeiros anos de escolaridade memorizem versos que contribuam, tanto para a sua formação ético-moral, como para a sua instrução linguística básica[6].
Após terem exercitado a leitura e a escrita de palavras isoladas, os alunos passavam à leitura de pequenas frases, que eram geralmente versos retirados de vários géneros, em particular da poesia épica, didáctica e dramática. O critério principal que presidia à escolha destes versos era o seu valor moral e sentencioso, pois deviam expressar, de forma sucinta e inequívoca, normas de vida e de conduta que os jovens gravariam para sempre na sua memória. Estas máximas morais serviam, adequada e eficazmente, os objectivos do professor que assim lograva que os seus alunos desenvolvessem, a um só tempo, a sua formação ética e linguística.
A fábula reunia também características muito particulares que a tornavam um dos textos mais apropriados e eficazes para levar à prática esta pedagogia. Foi, por essa razão, adoptada na escola antiga, desde tempos recuados, com uma marcada intenção educativa, tanto na esfera da dimensão moral, como na da puramente linguística[7].
Diogo Pires não enjeitou, ele próprio, as virtualidades oferecidas pela antiga tradição fabulística, reservando algum espaço na sua colectânea poética a este género literário, seja pela composição propriamente dita de algumas fábulas, seja pela simples alusão a outras nos disticha moralia[8]. Procurar-se-á, de seguida, apresentar e analisar este interessante conjunto de poemas que fazem parte, na sua totalidade, da obra Cato Minor siue Disticha Moralia.
A fábula tem uma finalidade eminentemente didáctica e moralizante, pelo que não é de estranhar que haja entre os dísticos morais do Cato Minor duas composições, cujo conteúdo remete, de forma inequívoca, para dois conhecidos apólogos de origem esópica. A inclusão destes dísticos entre os textos da colectânea proporcionaria decerto ao mestre uma excelente oportunidade de dar a conhecer aos jovens discípulos, nas suas linhas fundamentais, o conteúdo das fábulas originais, preparando desde logo uma futura exploração desses textos do ponto de vista temático e gramatical.
O primeiro dístico refere-se explicitamente à fábula de Esopo em que dois potes, um de barro e outro de cobre, são arrastados pela corrente de um rio[9]. O pote de barro dirige-se ao companheiro, pedindo-lhe que nade longe de si, para não se quebrar em resultado de um eventual contacto, mesmo que involuntário, entre ambos. O poeta eborense considera perfeitamente justificada a atitude do pote de barro, porquanto a moralidade da fábula grega diz que a vida não é segura para um pobre que tem por vizinho um príncipe rapace:
Fabula non uana est Aesopi: fictilis urna,
aerea quam tulerat sponte, recusat opem.[10]
Não é vã a fábula de Esopo: o pote de barro
recusa o auxílio que de boa vontade recebera do de cobre.
O segundo dístico moral remete o leitor para a mais antiga fábula latina, de origem esópica (a calhandra e os seus filhotes no campo de trigo), composta em verso por Énio, nas Saturae, e transmitida, com grande pormenor, por Aulo Gélio[11]. A calhandra avisada apenas toma a decisão de abandonar o campo de trigo em que vivia com os seus filhotes na última oportunidade, quando o dono da terra, cansado de esperar em vão pela ajuda prometida de amigos e parentes, decide ele próprio, em conjunto com o filho, ceifar o campo de trigo. O poema do humanista eborense sintetiza muito bem a lição da fábula latina, que a todos adverte dos perigos em que incorre quem se fia na ajuda de amigos ou parentes e não faz o que lhe compete:
Insanit si quis quemquam sibi credit amicum,
ut bene Cassitae fabula prisca docet.[12]
É louco quem se fia em algum amigo,
como bem ensina a antiga fábula da calhandra.
No entanto, o tratamento da fábula por parte de Diogo Pires nem sempre se circunscreve a textos com uma simplicidade comparável à dos dois dísticos morais acabados de apresentar. Com efeito, é possível rastrear na colectânea poética algumas composições, todas elas em verso, marcadas já por uma complexidade e riqueza bem maiores, que constituem verdadeiros exemplos de fábulas no respeito pleno pelas características técnico-formais do género.
O poema intitulado Ex Aesopo Hispano constitui um interessante exemplo de recriação de uma fábula, uma vez que se encontra estruturado a partir de um texto matricial, cuja identificação com a fábula de Esopo «Γεωργὸς καὶ ὄφις <τὸν παῖδα αὐτοῦ ἀποκτείνας>» não oferece a menor dúvida. No sentido de tornar mais simples o cotejo entre a fábula de Esopo e a de Diogo Pires, apresentam-se de seguida os dois textos originais, acompanhados da respectiva versão para língua portuguesa:
Γεωργὸς καὶ ὄφις <τὸν παῖδα αὐτοῦ ἀποκτείνας>
Γεωργοῦ παῖδα ὄφις ἑρπύσας ἀπέκτεινεν. Ὁ δὲ ἐπὶ τούτῳ δεινοπαθήσας πέλεκυν ἀνέλαβε καὶ παραγενόμενος εἰς τὸν φωλεὸν αὐτοῦ εἱστήκει παρατηρούμενος, ὅπως, ἂν ἐξίῃ, εὐθέως αὐτὸν πατάξῃ. Παρακύψαντος δὲ τοῦ ὄφεως, κατενεγκὼν τὸν πέλεκυν, τοῦ μὲν διήμαρτε, τὴν δὲ παρακειμένην πέτραν διέκοψεν. Εὐλαβηθεὶς δὲ ὕστερον παρεκάλει αὐτὸν ὅπως αὐτῷ διαλλαγῇ. Ὁ δὲ εἶπεν· «Ἀλλ᾿ οὔτε ἐγὼ δύναμαί σοι εὐνοῆσαι, ὁρῶν τὴν κεχαραγμένην πέτραν, οὔτε σὺ ἐμοί, ἀποβλέπων εἰς τὸν τοῦ παιδὸς τάφον.»
Ὁ λόγος δηλοῖ ὅτι αἱ μεγάλαι ἔχθραι οὐ ῥᾳδίως τὰς καταλλαγὰς ἔχουσι.[13]
O lavrador e a serpente que lhe matou o filho
Uma serpente, aproximando-se a rastejar do filho de um lavrador, matou-o. O lavrador sentiu uma dor terrível e, munindo-se de um machado, pôs-se de guarda junto ao ninho da serpente, disposto a matá-la, assim que ela saísse. Mal a serpente pôs a cabeça de fora, o lavrador desferiu um golpe, mas falhou, partindo em duas uma pedra próxima. Temendo a vingança da serpente, dispôs-se a reconciliar-se com ela, mas esta logo respondeu: «Nem eu posso alimentar bons sentimentos por ti, quando vejo a pedra partida, nem tu por mim, quando contemplas o túmulo do teu filho».
Esta fábula ensina que os grandes ódios não se prestam nunca a reconciliações.
EX AESOPO HISPANO
Filius agricolae periit demorsus ab hydro,
dum puer ad Durii flumina pascit oues.
Accurrit pater infelix, contorquet et hastam.
Illa uolat; colubro cauda resecta iacet.
Infert se medium pastor uicinus et ultro
orat amicitiae foedus inire uelint.
Efferus huic contra serpens: «Ni, stulte, facessis,
quid ualeant dentes, experiere, mei!
Num modus aut odio finis, cum mente recursent,
huic puer ereptus, cauda recisa mihi?»
Fabulat significat post uulnera et caedes raro amicitias coire.[14]
Do Esopo hispânico
O filho de um lavrador sucumbe, mordido por uma cobra,
enquanto, ainda criança, apascenta ovelhas junto ao rio Douro.
Acorre o pobre pai e brande uma lança.
Aquela vai pelo ar; a cauda da serpente jaz cortada.
Põe-se no meio um pastor da vizinhança e, além disso,
pede que eles selem um pacto de amizade.
A este, disse-lhe a serpente em resposta: «Se não te afastas, ó imbecil,
vais experimentar do que são capazes os meus dentes!
Porventura o ódio tem um limite ou um fim, quando está sempre a vir à mente,
a este, o jovem morto, a mim, a cauda cortada?».
A fábula mostra que depois de feridas e mortes raras vezes se fazem amizades.
Convém sublinhar que o poeta eborense, embora tenha respeitado, em traços gerais, a narrativa de Esopo, concedendo-lhe forma poética (dístico elegíaco[15]), procedeu a algumas alterações em relação ao modelo grego, como o próprio título que atribuiu à fábula deixa, desde logo, perceber. Assim se compreende, por exemplo, a menção concreta da localização geográfica em que decorre a acção, ou seja, ad Durii flumina. Uma pequena alteração concede um realismo muito maior ao relato da fábula latina: em Esopo, o lavrador tenta matar a serpente mas, ao falhar o golpe, fende uma rocha em duas; em Diogo Pires, o lavrador não logra, de igual modo, matar a serpente, mas ainda consegue cortar-lhe a cauda. Ora, este pormenor assume uma grande importância na última frase da serpente, porque a lembrança da cauda cortada será decerto muito mais forte do que a da rocha fendida em duas. Agora, tanto o lavrador como a serpente têm na sua lembrança algo que lhes pertencia, antes de lhes ter sido retirado à força: o filho e a cauda. Além disso, introduz-se uma nova figura, inexistente no texto original, o pastor uicinus, que se dirige à serpente, para propor um acordo de paz entre ela e o lavrador. Ao invés, em Esopo, é o próprio lavrador que toma essa iniciativa, com medo de eventuais represálias da serpente, após a sua frustrada tentativa de a matar. Diga-se, por último, que a fala da serpente incorpora de modo inovador, no poema latino, o motivo da ameaça de morte, que não tem lugar no modelo grego.
As fábulas mais originais do humanista português não seguem de perto um único modelo, como acontece com a composição Ex Aesopo Hispano que é, a este respeito, caso único. Na verdade, as composições que adiante se apresentam conjugam, com grande mestria e liberdade, motivos vários provenientes da tradição fabulística greco-latina ou mesmo de outra origem, nem sempre fácil de determinar. As duas composições a que nos referimos encontram-se no final do primeiro capítulo do Cato Minor (na edição de 1596), em jeito de remate dos três livros de dísticos morais.
Os Disticha Moralia Libri Tres terminam, efectivamente, com duas fábulas seguidas de argumento bastante original, que não deixam, evidentemente, de ter como matriz alguns textos modelares dos mais celebrados fabulistas greco-latinos, ou seja, Esopo e Fedro. A fábula tem um pendor eminentemente didáctico e moralizante, pelo que não é de estranhar que o poeta acrescentasse no final dos dísticos morais alguns poemas deste género tão do agrado dos mais novos. O primeiro poema tem por título muito simplesmente a palavra Fabula[16] e relata, em hexâmetros dactílicos, a história do leão que, no julgamento, é rei, juiz e testemunha ao mesmo tempo:
FABVLA
Fabellam narrare libet nec seria semper
delectare solent. Est et sua gratia nugis
apte compositis. Occidi iusserat olim
Rex Leo, quotquot erant omnes a stirpe camelos.
Indignum facinus! Verum lex Regia uox est
nec tutum differre, iubet quodcumque Tyrannus.
Ignescunt animi et ferro mora plectitur omnis.
Ergo ubi per terras uulgata est fama nouumque
audiit edictum uulpes, expalluit amens
et loca tuta fugae quaerit. Timor undique mortis
atque oculos Leo crudelis uersatur ob ipsos.
Huic cornix, celsa dum pendet ab ilice, «Nulla est
causa timoris», ait, «nec enim te Bactria misit
deformem gibba et protenso in pectora collo,
nec patiens oneris dorsum geris. Ergo canum uim
aut hominum potius casses et retia uites.»
Illa autem caelum aspiciens: «Pol», inquit, «inepta es,
o Soror, aut potius nugatrix garrula! Quae me,
quae te consilio, quaeque annis praeeo, regum
leges, et rescripta iubes addiscere? Num si
aptet clitellas, et dixerit, «Esto camela»,
Rex tibi, Rex idem et iudex, et testis, abibis
iudicio incolumis causamque tuebere uerbis
rhetoricum in morem? Felix, quod in aere degis,
sin minus, his mecum latebris inclusa iaceres.»
Fabula significat regibus de medio tollendi quos uelint causas nunquam deesse.[17]
FÁBULA
Apraz-me contar uma fábula, mas as histórias sérias
nem sempre costumam agradar. E até as bagatelas
bem escritas têm a sua graça. Um dia, o rei Leão
tinha mandado matar quantos camelos havia, de uma ponta a outra.
Crime vergonhoso! Mas palavra de Rei é lei
e não é seguro retardar seja o que for que o tirano ordene.
Incendeiam-se os espíritos e pune-se com a espada qualquer demora.
Por isso, mal a notícia se espalhou por toda a parte e a Raposa
ouviu falar da nova ordem, desorientada, teve medo de morrer
e procurou fugir para um lugar seguro. O temor da morte está por toda a parte
e o Leão cruel aparece diante dos seus próprios olhos.
Uma gralha, suspensa do alto de uma azinheira, diz-lhe:
«Não há razão para teres medo, pois nem a Bactra te fez andar
disforme com uma bossa e com o pescoço curvado sobre o peito,
nem andas a suportar carga no dorso. Por isso, deves antes evitar
a força dos cães ou os laços e as redes dos homens».
Ela, porém, voltando-se para o céu, disse: «Com os diabos, ó irmã,
tu és louca ou então uma palradora sem-vergonha! A mim,
que sou mais avançada que tu em juízo e em idade, que leis
dos reis e que preceitos é que me estás a mandar aprender?
Porventura se o Rei te puser uma albarda, e o Rei, ele mesmo juiz
e testemunha, te tiver dito «Sê uma camela», sairás
intacta do julgamento, depois de teres defendido a tua causa
com palavras de retórica? És feliz porque vives no ar,
quando não, estarias comigo escondida nesta toca».
A fábula significa que nunca faltam razões aos reis para matarem quem eles querem.
A fábula ilustra o poder discricionário de que dispõem os monarcas, a ponto de forjarem motivos para ordenarem a morte de quem muito bem entendem. No fundo, a animada troca de razões entre a gralha e a raposa, na sequência da ordem do leão para mandar matar, sem razão aparente, todos os camelos da terra, ilustra na perfeição esta dura realidade e dá o tom a esta curiosa fábula política, que põe em evidência a natureza e o poder sem limites do rei-leão. Este poema não é uma mera tradução de uma qualquer fábula greco-latina, apesar de ser possível rastrear alguns motivos já conhecidos, como o tema da societas leonina[18] ou a conclusão lapidar da raposa que diz à gralha que a felicidade dela se deve ao simples facto de estar a salvo por viver no ar, fora do alcance das garras do rei[19]. Trata-se, de facto, de uma fábula muito original e inovadora, mesmo na disposição dada aos motivos tradicionais, de grande perfeição técnico-formal, que demonstra as enormes virtualidades do poeta eborense.
A segunda fábula intitula-se Alia ad Benessum causarum patronum[20] e está endereçada a Simon Benečić, notável jurista e governante de Ragusa[21]. Compõe-se de 12 dísticos (pitiâmbico I), em que o hexâmetro dactílico alterna com o dímetro iâmbico. Este poema volta a ter como figura principal o rei-leão, desta feita para demonstrar o quão insanos são aqueles que confiam a sua vida à protecção dos tiranos. O argumento assenta na célebre história do leão e do burro, na qual este se aproxima do leão doente, confiando estultamente nas suas palavras, pelo que acaba por pagar com a vida tamanha imprudência:
ALIA AD BENESSVM CAVSARVM PATRONVM
Si ridere libet, pulsant neque tecta clientes,
audi, Benesse, fabulam
argutam et multi plenam salis. Iuit asellus
olim leonis in specum
officii causa, regem uisurus et aegrum.
Is perlibenter hospitem
Fingit se uidisse, et ait: «Dulcissime rerum
et iure dilectum caput,
gratum est, quod saluus uenisti. Accede meamque
agnosce regiam fidem.
Digna feres uirtute tua». Submissior ille
de more gratias agit.
Rudit et insuetum caudaque adludit amice,
heu sortis ignarus suae!
Nam cadit impressus uiolentis unguibus artus,
atroque sparsus sanguine,
foedat humum. Capitis leo dissecat ossa, medullam
hinc inde quaerens abditam.
At procul e tumulo uulpes «Heus», inquit, «inepte!
Quicumque regis impia
tecta petunt, illis cerebrum Deus eximit omne.
Frustra innocentis belluae
optatam quaeris praedam. Rode ossa, subibis
tu forsan exitum parem!»
Fabula significat insanire eos, qui salutem suam Tyrannorum fidei committunt.[22]
OUTRA [FÁBULA] PARA O ADVOGADO BENEČIĆ
Se tens vontade de rir e os clientes não te batem à porta,
ouve, Benečić, uma fábula
arguta e com muito sal. Foi uma vez
um burro ao covil do leão,
por deferência, para visitar o rei enfermo.
Este finge que é de muito bom grado
que vê o hospede e diz: «Tu, ó mais caro dos seres
e pessoa justamente querida,
tenho muito prazer em que venhas de boa saúde. Aproxima-te
e conhece a minha protecção régia.
Receberás um prémio digno da tua coragem.». Ele, submisso,
faz os agradecimentos do costume.
Zurra e, para surpresa do outro, toca-lhe com a cauda como amigo,
oh, ignorante da sua sorte!
pois acaba por tombar com as violentas garras cravadas nos seus membros
e, banhado em sangue de forma cruel,
mancha a terra. O leão despedaça os ossos da cabeça, à procura
de um e de outro lado da medula oculta.
Mas, longe da colina, uma raposa exclama: «Aqui tens, ó pateta!
Todos os que demandam
a ímpia casa de um Rei, a esses, Deus arranca-lhes o cérebro todo.
É em vão que procuras a desejada
presa da besta inocente. Rói os ossos, talvez tu
venhas a sofrer um desfecho igual!»
A fábula significa que são insensatos os que confiam a sua vida à protecção dos tiranos.
Esta segunda fábula parece complementar a anterior, uma vez que volta a ilustrar a natureza constante do rei-leão, malgrado a dissimulação que o caracteriza desta vez, mostrando o quão insensato é confiar a protecção da vida a um rei carniceiro e cruel. Serviu de tema principal a velha história do leão doente ou velho que, usando de artifícios variados, consegue devorar os animais mais fracos que o visitam[23].
A maneira curiosa e hábil como a fábula é introduzida evidencia, desde logo, uma autêntica captatio beneuolentiae, quando o poeta afiança que o texto em apreço representa uma excelente forma de ocupar o tempo, quer seja o do advogado Simon Benečić, a quem o poema se dirige, quer seja o de um qualquer leitor que tenha vontade de se rir um pouco. Esta fábula, à semelhança da anterior, apresenta uma estrutura lógica e narrativa bem delineada, com o habitual desenvolvimento em forma dialogada, que culmina na conclusão moralizante, ainda mais destacada, neste caso, por estar escrita em prosa. Curiosamente, em ambas as fábulas, a raposa assiste de longe, com grande cautela, ao desenrolar dos factos, demonstrando a consciência perfeita das consequências terríveis que podem advir a alguém menos prevenido em relação à actuação do rei.
Uma vez mais, o poeta maneja com grande mestria vários motivos presentes na tradição fabulística greco-latina, acabando por compor um belo poema em que a graça poética se funde com uma profunda dimensão ética[24].
Por último, merecem a nossa especial atenção duas composições mais curtas (que levam, por isso, o título de fabella e iocus), também publicadas no fim da colectânea de dísticos morais.
Na segunda edição do Cato Minor, na parte final dos Moralium distichorum libri III, encontra-se um poema de apenas dois dísticos com o título Hispanica fabella. Presume-se que houve intenção de agregar esta fabella às duas fábulas mais extensas comentadas anteriormente, com as quais termina o conjunto dos dísticos morais, pela relação evidente entre os três poemas, uma vez que a Hispanica fabella não ocupava, na realidade, este lugar na primeira edição:
HISPANICA FABELLA
Lingua caput quondam (uetus est fabella) rogabat:
«Ecquid agis mea lux? Num tua salua satis?»
Sic caput arridens: «Belle soror omnia cedent,
si tu, quae mea mors et mea uita, siles».[25]
PEQUENA FÁBULA HISPÂNICA
Perguntava um dia a língua à cabeça (é velha a fábula):
«Que andas a tramar, ó minha luz? Porventura não está bem a tua [língua]?»
Assim respondeu a cabeça a sorrir: «Tudo correrá bem, irmã,
se tu, que és a minha morte e a minha vida, estiveres calada.»
Na origem desta pequena e enigmática fábula em forma dialógica, entre a cabeça e a língua, foi possível rastrear um celebrado versículo do Livro dos Provérbios, um dos livros sapienciais do Antigo Testamento[26].
A segunda composição a que nos referimos é um curioso poema, intitulado Petronii Boloniensis Iocus, que foi publicado, na segunda edição do Cato Minor, no seguimento dos últimos dísticos morais do livro terceiro. Trata-se de uma pequena história em que uma raposa aparece a brincar com a pretensa falta de qualidade da obra do poeta eborense, em casa de quem diz ter encontrado mais palavras do que trabalho. A raposa refere ter visto nesse local muitos dísticos semigregos (semigraeca disticha), sendo uma provável alusão a vários dísticos morais da colecção em que surgem palavras ou mesmo frases em língua grega.
É enorme o espanto da raposa por os poemas, decerto os Moralium distichorum libri III, não terem ainda sido queimados ou levados pelo vento, ainda que ela tenha abandonado, no final, a casa de Flávio (recorde-se que Iacobus Flauius Eborensis é o nome do poeta que se encontra gravado no frontíspicio do Cato Minor) com um sorriso matreiro nos lábios:
PETRONII BONONIENSIS IOCVS
Ingressa uulpes Flauii domunculam,
«Papae, quot», inquit, «semigraeca disticha,
quot uerba, uerum facta nulla conspicor!
Cur huc deorum cessat ille loripes
faber uenire cum ministris Aeoli,
dignum ut poeta praebeat spectaculum?»
Haec eloquuta pauca, mox ridens abit.[27]
GRACEJO DE PETRÓNIO DE BOLONHA
Ao entrar na casinha de Flávio, uma raposa
exclamou: «Oh, quantos dísticos semigregos,
quantas palavras, mas não vejo nenhum trabalho!
Por que razão tarda em vir para aqui o célebre ferreiro
coxo dos deuses com os auxiliares de Éolo,
para oferecer um espectáculo digno do poeta?»
Pronunciou estas poucas palavras; a seguir, sorrindo, partiu.
Não se sabe, de facto, quem está por detrás do nome Petronius Bononiensis, embora pareça ser o próprio Diogo Pires[28]. Note-se, porém, que é bastante invulgar o meio utilizado pelo poeta para brincar com a sua própria obra, recorrendo à estrutura da fábula tanto na forma (senários iâmbicos) como no conteúdo (paralelismo com a fabulística greco-latina).
É curioso imaginar o efeito que a leitura deste poema despertaria nos jovens discípulos, que assim dispunham da rara oportunidade de gracejar com os dísticos morais na presença do próprio autor/professor. Este, por sua vez, podia também aproveitar o ensejo para explorar a relação com as fábulas da literatura greco-latina, que não seriam, decerto, desconhecidas dos jovens alunos de latinidades.
Diogo Pires revelou-se desde sempre um poeta inspirado, pelo que não surpreende que tenha usado o seu talento em prol da formação moral e linguística dos jovens alunos de humanidades, no respeito, aliás, do famoso preceito horaciano que via na poesia um duplo fim: prodesse e delectare[29]. Diogo Pires deixa-nos um valioso testemunho do lugar de eleição que a fábula ocupava no exercício da prática pedagógica humanista, cujo objectivo último era proporcionar aos jovens uma formação de carácter integral. A fábula, porém, é apenas um dos vários géneros cultivados na vasta colectânea do humanista português, que testemunham, no seu conjunto, esta associação íntima da ética com a formação linguística, através da poesia. O Cato Minor é, por conseguinte, uma obra que nasce naturalmente desta comunhão profícua entre a poesia e o ensino, entre a expressão mais pura do texto poético e a dimensão ética que dele emana.
[1] D. Erasmi Roterodami epitaphia, per eruditiss. aliquot viros Academiae Lovanien. edita. Lovanii, ex officina Rutgeri Rescii, Men. Mart. 1537. Estes poemas evocativos de Erasmo, traduzidos por Miguel Pinto de Meneses (poemas em latim) e por Walter de Sousa Medeiros (poemas em grego), podem encontrar-se em Artur Moreira de SÁ, De re Erasmiana: aspectos do erasmismo na cultura portuguesa do século XVI. Braga 1977, 337-343. Mais tarde, C. A. ANDRÉ, num trabalho sugestivamente intitulado «Diogo Pires e a lembrança de Erasmo», Humanitas 41-42 (1989-1990), 81-98, analisa em pormenor estas composições, apresentando uma nova tradução dos poemas em latim.
[2] Apresenta-se a descrição bibliográfica das duas edições venezianas da colectânea, que foi significativamente aumentada e reformulada na segunda edição:
FLAVII IACOBI / EBORENSIS / CATO MINOR, / SIVE DYSTICHA MORALIA / ad Ludimagistros Olyssipponenses. / ACCESSERE NOVA EPIGRAMMATA, / & alia nonnulla eodem Auctore. / Opus pium, et erudiendis pueris ad- / prime necessarium. / VENETIIS, / Sub signum Leonis. MDXCII.
FLAVII / IACOBI EBORENSIS / CATO MINOR, / SIVE DISTICHA MORALIA / Ad Ludimagistros Olysipponenses. / ACCESSERE EPIGRAMMATA, / & alia nonnulla eodem auctore, quae / sequens pagella indicabit. / OPVS PIVM, ET ERVDIENDIS / pueris adprime necessarium. / Psal. 33. / Uenite filij, audite me, timorem Domini docebo uos. / VENETIIS, MDXCVI. / Apud Felicem Valgrisium.
[3] A esta obra de Diogo Pires, dedicámos a nossa dissertação de doutoramento, subordinada ao título O Cato Minor de Diogo Pires e a Poesia Didáctica do séc. XVI. Aveiro, Universidade de Aveiro – Departamento de Línguas e Culturas, 2005 (versão policopiada).
[4] Para uma reflexão sobre a terminologia utilizada na educação romana para designar o professor da instrução primária e secundária, cf. E. W. BOWER, «Some technical terms in roman education»: Hermes 89 (1961) 462-477.
[5] Cf. H.-I. MARROU, Histoire de l’éducation dans l’antiquité. Paris 71981, vol. I, 227-236; vol. II, 69-70; S. F. BONNER, La educacíon en la Roma antigua: desde Catón el Viejo a Plinio el Joven. Barcelona 1984, 221-239 [versão original: Education in Ancient Rome. Berkeley, University of California Press, 1977]; Gian Franco GIANOTTI, «I testi nella scuola»: G. CAVALLO, P. FEDELI, A. GIARDINA, (direttori), Lo spazio letterario di Roma antica. Roma 1993, vol. I, 438-443.
[6] Quint. Inst. 1.1.35-36. Sobre a mesma prática, cf. Sen. Ep. 33.7; 94.9.
[7] Quint. Inst. 1.9.2-3. Cf. Domenico LASSANDRO, «La favola antica: proposta di un percorso didattico»: C. SANTINI – L. ZURLI (eds.), Ars narrandi. Scritti di narrativa antica in memoria di Luigi Pepe. Napoli 1996, 208.
[8] A tradição fabulística greco-latina teve uma excelente recepção em Portugal, sobretudo entre os autores que escreveram em português ou castelhano durante o século XVI. Remetem-se os interessados para dois trabalhos recentes que exploraram o tema, embora nenhum dos dois estudos tenha contemplado o caso de Diogo Pires: Luciano José dos Santos Baptista PEREIRA, A fábula em Portugal: contributos para a história e caracterização da fábula literária. Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2003 (dissertação de doutoramento – versão electrónica); Alexandra Maria de Melo MADAIL, Recepção literária de Esopo e Fedro em autores portugueses. Aveiro, Universidade de Aveiro – Departamento de Línguas e Culturas, 2003 (dissertação de mestrado – versão policopiada).
[9] Aesop. 354; Avian. 11. As fábulas de Aviano foram recentemente traduzidas e comentadas por Jorge Manuel Tribuzi Correia de MELO, As fábulas de Aviano: introdução, versão do latim e notas. Aveiro, Universidade de Aveiro – Departamento de Línguas e Culturas, 2001 (dissertação de mestrado – versão policopiada).
[10] Cato Minor (1596), Disticha Moralia 2.107-108.
[11] Gel. 2.29; Avian. 21; Babr. 88.
[12] Cato Minor (1596), Disticha Moralia 2.277-278.
[13] Aesop. 81.
[14] Cato Minor (1596), 150-151. Os dois primeiros versos encontram-se traduzidos por C. A. ANDRÉ, Um judeu no desterro: Diogo Pires e a memória de Portugal. Coimbra 1992, 71.
[15] Sobre a fortuna da fábula composta em dísticos elegíacos na Antiguidade e na Idade Média, cf. F. RODRÍGUEZ ADRADOS, «De la fábula griega a la fábula latina en dísticos elegiacos»: F. RODRÍGUEZ ADRADOS, De Esopo al Lazarillo. Huelva 2005, 459-472.
[16] Cato Minor (1596), 41.
[17] Cato Minor (1596), 40.
[18] Cf. Aesop. 207 (Λέων καὶ ὄναγρος), 209 (Λέων καὶ ὄνος καὶ ἀλώπηξ); Phaed. 6 (Vacca et capella, ouis et leo).
[19] Cf. Phaed. 135 (Terraneola et uulpes).
[20] Cato Minor (1596), 42.
[21] Não é a única vez que Diogo Pires dedica os seus poemas a Simon Benečić. Refira-se, em particular, a notável elegia Ad Benessum (Eleg. 1.10), onde reflecte amargamente sobre os males do exílio, a qual foi editada e traduzida por C. A. ANDRÉ, Um judeu no desterro..., op. cit., 41-42.
[22] Cato Minor (1596), 42.
[23] Cf. Aesop. 196 (Λέων <γηράσας> καὶ ἀλώπηξ); 199 (Λέων καὶ ἀλώπηξ καὶ ἔλαφος); 205 (Λέων καὶ λύκος καὶ ἀλώπηξ).
[24] Usamos, com a devida vénia, a feliz expressão de D. LASSANDRO, «La favola antica: proposta di un percorso didattico», op. cit., 208: «Quei messaggi sono la ricchezza della favola e ne hanno determinato – e ne determinano – la fortuna nel corso dei secoli: nella fusione, così efficace sul piano narrativo, di sorridente grazia poetica e di profonda dimensione etica sta infatti il valore perenne di un genere letterario leggibile e fruibile in ogni età della vita, dall’infanzia alla vecchiaia.»
[25] Cato Minor (1596), 43.
[26] Prov. 18.21: «Mors et vita in manu linguae: qui diligunt eam comedent fructus eius.». A este mesmo versículo alude, por exemplo, a Regra de São Bento, no capítulo dedicado ao silêncio (VI De taciturnitate). Para uma análise da versão latina e portuguesa deste capítulo da Regula Benedicti, bem como da história da sua riquíssima tradição manuscrita e impressa em Portugal, acompanhada da análise linguística das antigas versões portuguesas, cf. Ivo CASTRO, Introdução à História do Português. Lisboa 22006, 172-184.
[27] Cato Minor (1596), 37.
[28] D. KÖRBLER, «ivot i rad humanista Didalka Portugalca, napose u Dubrovniku»: RAD Jugoslavenska Akademija Znanost i Umjetnost (1917), 22-23, sugere que talvez este poema seja da própria autoria de Diogo Pires. A reforçar esta interpretação está o facto de ter sido publicado em sítios diferentes nas duas edições do Cato Minor: na primeira, encontra-se agregado a outro poema nos testimonia; na segunda, integra os Moralium distichorum libri III e os dois poemas, antes agrupados num só, separam-se e fazem parte de capítulos distintos.
[29] Hor. Ars 333.
********************************************************
PUBLICACIÓN ORIGINAL:
ANDRADE, António Manuel Lopes — «Os Senhores do Desterro de Portugal: Judeus Portugueses entre Veneza e Ferrara em meados do século XVI»: Veredas – Revista da Associação Internacional de Lusitanistas 6 (2006), pp. 65-108.
OS SENHORES DO DESTERRO DE PORTUGAL. Judeus Portugueses em Veneza e Ferrara em meados do séc. XVI
A FIGURA DE SALOMÃO USQUE: A FACE OCULTA DO HUMANISMO JUDAICO-PORTUGUÊS
0 comentarios